sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mais uma daquelas histórias...

O senhor já de idade atravessa com agilidade a avenida movimentada, cheia em função do horário. O senhor parece mancar de uma perna, especificamente a perna esquerda, mas isso é só um detalhe. Ele sorri e me deseja "Boa tarde!", eu retribuo e de cara sei que dali sairá uma conversa. O calor é grande e o sol estala sobre as cabeças ocupadas da cidade. Fico observando o tal senhor, ele senta-se no banco mas não aparenta nem o mínimo de cansaço, nem uma gota de suor. Do meu lado ouço pessoas mais novas do que ele reclamarem do calor, com caras estampadas de mau humor, impacientes com a demora do ônibus. Ele não. Está lá quieto, a olhar para os lados. Me pergunta:"Vila Dirce já passou?!", tenho que dar a triste noticia:"Iiii senhor, acabou de passar!", "Aaah não faz mal, eu espero outro.Só não posso me atrasar, é que eu tenho treino". Treino?Na hora já pensei "senhorzinho esportista, tá na cara, revela disposição". Mas errei. O senhorzinho é jogador de dominó, "160 vitórias, invicto até agora no campeonato" me revelou com um grande sorriso. Nisso ele já me mostra o cronograma de atividades que ele segue na Instituição que participa: alfabetização, natação, volei, damas e é claro o dominó. "Quem vencer essa semana vai para a final! "Olhei para a perna dele e não sei se de certa forma ele percebeu e me disse tranquilo tranquilo: "Sofri um acidente de moto..." Moto?Caaaara, olha só?! "Foi na Copa, durante o primeiro jogo, o Brasil tinha ganhado e estava uma baderna na rua, eu tinha uma twist 250 mas minha carteira de habilitação estava vencida.Pedi para o meu genro conduzir a moto enquanto eu ia na garupa, numa curva um carro que estava em alta velocidade me acertou". Eu só escutava (lembrei do meu tio, do meu primo...). "Mas hoje eu estou bem, só não participo da Dança de Salão ainda porque não tenho força suficiente na perna esquerda, tenho uma placa aqui e ali (me mostrou a cicatriz enorme no joelho, sempre sorrindo...). Eu disse que ele tinha sorte, e muita força de vontade. Ele me respondeu: "Aah tem que ter minha jovem, senão vamos viver de que?" Aí o ônibus chegou, lhe desejei sorte para o campeonato, mas acho que ele já tem tudo que precisa, até mais.

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